quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A conselheira


Cansada após caminhar horas a fio, a menina resolve sentar na areia e apreciar o vai e vem das ondas. Costumava fazer isso sempre que possível, quando era menos ocupada. A temperatura amena, o vento no seu rosto, o som de carros misturadas com as ondas do mar, o céu claro com uma lua linda lhe iluminando... O que mais faltava nessa cena? Faltava ela, a alma dessa menina, que teimava em vagar por pensamentos meio atordoados, que lembrava de cada frase jogadas para ela que a afetavam de uma forma inexplicável, que voltava no tempo para lembrar de acontecimentos e tentar recordar como era feliz... E junto com essa confusão toda, vinham suas lágrimas... Lágrimas que saltavam dos seus olhos lhe fazendo doer a garganta e que pingavam, se perdendo na areia.
Sua cabeça trabalhava de uma forma intensa e a dor de cabeça constante lhe fazia querer pular dentro do mar e deixar as ondas a levarem para qualquer lugar que tivesse paz. Mil perguntas sem respostas, mil acontecimentos sem explicação, mil pessoas que estavam ao seu redor dias atrás que simplesmente esqueciam subitamente de sua existência...

- E se eu sumir, será que alguém sentirá minha falta? - Questionava ela ao lindo luar.

- Claro que sim! - Uma voz a respondeu...
Por um momento ela achou que estivesse louca e apenas com o olhar tentou avistar se havia alguém ao seu redor. E ali estava, uma senhora de cabelos curtos e bem brancos, um pouco acima do peso e com dificuldade de sentar na areia ao seu lado... A menina apenas observou e quando finalmente a senhora conseguiu se acomodar, continuou:

- Fia, todos nós temos nossa importância nesse mundo. Ninguém veio a toa, nada acontece a toa. Passamos por momentos ruins em nossas vidas, que devemos usá-los como exemplos e seguir sempre em frente. Nada pode nos parar quando realmente queremos algo, nada que você queira fazer pode ser considerado besteira, ainda mais se for uma vontade ou um sonho seu. O que te causa dor, para mim pode ser algo normal, o mundo dá voltas e sempre há tempo de se arrepender e começar de novo, perdoar é algo que acalma o coração e você só terá em sua vida quem realmente se importa com você.

Sem entender quem era tal senhora e o que ela estava tentando fazer, em um tom nada amigável, questionou:

- Desculpe, senhora... Mas não lhe conheço. O que quis dizer com esse monte de frases soltas?
- Quis dizer tudo aquilo que você precisa acreditar. Sei que já ouviu várias vezes, mas se não acredita, de que adianta?
- A senhora não sabe o que é minha vida...
- Não sei mesmo, mas tenho idade para ser sua avó e tenho autoridade para te dar conselhos.
- Como pode dar conselhos sem saber de nada?! É algum tipo de vidente?

A senhora apenas sorriu, com os lábios e com os olhos, olhando para a menina com aquela calma que vem da alma. Olhou para o mar, respirou fundo e ficou em silêncio por alguns minutos, enquanto a menina continuava chorando e soluçando.

- Já tive sua idade, fia... Eu sei que as vezes parece que tudo tá errado e que a vida só anda para trás, mas acredite, você precisa passar por tudo que está passando. Você ainda vai tirar proveito de tudo, seja para ter força e seguir em frente, seja para não querer mais passar por essa situação e ter mais forças ou seja para consolar uma menina linda e jovem que acha que nada mais tem jeito. Eu sou uma desconhecida, mas sei o que estou falando. Levanta essa cabeça e siga em frente!
- Pq tudo tem que ser tão difícil? As pessoas só me sacaneiam sempre! Eu tento ser legal, fazer o correto... Sou uma pessoa correta, com tudo! Pq Deus é tão injusto comigo? Pq me dá as coisas que eu preciso para viver bem e depois de pouco tempo tira, sem que eu possa fazer nada?! Eu posso contar aqui pra você agora os momentos que fui feliz e... - Ela não conseguiu mais falar, o choro não deixava.
- Coloque pra fora fia, seja chorando, seja brigando comigo, seja escrevendo... Mas não guarde nada que não vá te fazer bem.

A menina então resolve parar de brigar e abraça a desconhecida senhora, que consola seu choro apenas passando a mão em seus cabelos e a abraçando firme. A menina encontra na senhora, um aconchego, o qual ainda era desconhecido por ela. Aquela briga interna, o medo de se mostrar frágil, acabou nos braços de uma desconhecida e apesar de tudo, ela sentiu paz. Secou os olhos, olhou para a senhora e segurando suas mãos, agradeceu.

- Não sei seu nome, nem de onde veio e nem pq veio até mim, mas... Obrigada!

A senhora mais uma vez riu, com os lábios cerrados...

- Todos nós precisamos ter um porto para a hora de nossas angústias e eu tenho certeza que vc tem esse porto, tem esse alguém que se preocupa com vc, que pergunta se vc se alimentou, que por uma foto ou de ouvir sua voz no telefone sabe que vc não está bem... Isso as vezes assusta, né fia? Mas, seja esse alguém quem for e aconteça o que tenha acontecido, volte para seu porto.
- E se esse porto não quiser mais me receber, como eu faço?
- O seu porto sempre vai querer te receber... Basta saber se vc quer ser aceita. Tenho que ir embora, fia. Me promete que vai ficar bem?
- Cedo ou tarde, irei... No final tudo dá certo.

A senhora se levantou com dificuldade e foi caminhando vagarosamente. A menina a acompanhou com os olhos até onde pode e depois, resolveu levantar dali e seguir sua vida, esperando o dia em que tudo dê certo. 


Mary Jane

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